ENTREVISTA || Manuel Sans Segarra é médico, especialista em
cirurgia geral, com um foco particular em cirurgia oncológica. Garante que
existe vida depois da morte e que tem provas científicas disso mesmo, que
relata no seu novo livro e resume numa conversa com a CNN Portugal através da jornalista Manuela Micael
Manuel Sans Segarra acredita que um dia todos seremos
capazes de entrar em contacto com a nossa supraconsciência. Nessa altura, todos
teremos a capacidade de sermos bons e “a Terra será o Céu”. “Não haverá maldade
nem desigualdades”, assegura.
Veio a Portugal apresentar o novo livro “A SupraconsciênciaExiste – Vida depois da Vida”, onde relata casos de pacientes que viveram
experiências de quase morte e entraram em contacto com a supraconsciência e com
a vida que existe para além da morte… ou desta vida.
Criado no cristianismo, desligou-se da religião, mas ficaram
os valores que os pais lhe “inculcaram” e pelo quais lhe é “grato”: “bondade,
empatia, ajudar as pessoas, não roubar, ser uma boa pessoa”. O que abandonou,
explica, foram os “dogmas”. E explica que entrar em contacto com a
supraconsciência é “encontrar Deus dentro de cada um de nós”.
Como se pode provar cientificamente que existe vida depois
da morte? Parecem duas coisas antagónicas: a ciência e essa dimensão
espiritual…
Esta tem sido precisamente a minha investigação desde que
comecei a estudar as experiências de quase morte. Procurar uma justificação
científica e objetiva, sem contar de todo com aspetos religiosos ou com aspetos
metafísicos. Ou seja, com o método científico cartesiano e newtoniano, que é o
método que estuda o mundo macroscópico, o mundo objetivo e o mundo real. Esse
era o meu objetivo, demonstrar que existe vida após a morte física, mas com
métodos científicos.
Ao estudá-lo, deparei-me com várias manifestações da nossa
identidade autêntica. Aquilo a que chamo de supraconsciência. O que nos permite
estudá-la melhor são as experiências de quase morte, porque são muito bem
definidas, são longas, o doente relata o que viveu, ou seja, há uma série de
fatores que favorecem o seu estudo objetivamente.
E que provas objetivas encontrou?
Ao estudar as experiências de quase morte, vi que há dois
aspetos fundamentais. Existem provas objetivas reais.
Por exemplo?
Eles podem descrever exatamente o que está a acontecer
quando estou a reanimá-los, numa altura em que estão clinicamente mortos, à
distância que você quiser. E você pode verificar exatamente o que eles estão a
descrever que está a acontecer a quilómetros de distância, nas antípodas, na
Austrália, e você está aqui, certificando-se de que é exatamente o que está a
acontecer quando o seu corpo está morto e estamos a reanimá-lo.
Os meus pacientes descreveram-me tudo o que estava a
acontecer no serviço de urgências, enquanto os tinha mortos e os estava a
tentar reanimar com o desfibrilador, picando-lhes o coração, enquanto fazia
massagem cardíaca,.. Depois verifiquei, e posso certificar perante um notário,
que tudo o que me contaram é exatamente o que estava a acontecer.
Eles são capazes de nos detalhar, independentemente do
espaço e do tempo, no mesmo momento em que ocorre, a informação do que está a
acontecer com todo o tipo de pormenores, o que demonstra claramente que eles
viram, não inventaram.
Mais provas objetivas: descobrem-se coisas que vêm durante a
experiência de quase morte, que impactam diretamente na sua vida e que não
sabiam, que era impossível saberem. Descobrem, por exemplo, que são pessoas
adotadas, descobrem familiares que nem sabiam que tinham, que os viram durante
a experiência de quase morte e depois verificam, biologicamente, que são irmãos
e familiares.
Outra coisa fundamental é estamos a fazer ressonâncias
magnéticas funcionais a pacientes que tiveram uma experiência de quase morte e
nos contam toda a experiência enquanto a ressonância magnética é feita. Veja
bem: quando viram um objeto durante a experiência de quase morte, que nunca
tinham visto antes, nem voltaram a ver, que estava a uma distância enorme de
onde ele estava morto, e comentam isso, o lobo occipital é ativado.
Isso reflete-se na ressonância magnética?
Enquanto estão a fazer a ressonância magnética e depois
contam a sua experiência de quase morte e falam de um objeto que motivou o seu
interesse, que viram apenas durante a experiência de quase morte e que estava
muito longe, não onde estava o seu corpo morto. O lobo occipital é ativado. É
no lobo occipital que o ser humano interpreta as imagens.
Então pergunto ao neurologista: porque é que o lobo
occipital é ativado? Sabe qual é a resposta? Ele diz: pode ter a certeza de que
este doente viu este objeto. Eu digo-lhe: ele só viu este objeto durante a
experiência de quase morte. O seu corpo estava numa maca, morto e nunca o tinha
visto, nem antes nem depois. Ele diz: “Então, pode ter a certeza de que ele
viu”.
E conseguimos explicar cientificamente porque é que isso
acontece?
Existem neurónios no nosso cérebro chamados
neurónios-espelho, responsáveis pela memória. Quando você vê um objeto que lhe
interessa, esses neurónios ficam impregnados com a imagem. E você lembra-se
dela, pode descrevê-la mais tarde, sem a ver. E quando a vê diz: “Olha, é a que
eu vi”. Tem memória. Então, o doente tinha memória desse objeto que só viu
durante a experiência de quase morte. Por isso o lobo occipital ativou-se
durante a ressonância magnética ao descrevê-lo, porque houve uma interferência
com a memória.
O neurologista, que não acreditava nisso, dizia-me que eram
alucinações. Quando viu essa ressonância magnética, disse que pode garantir que
a experiência de quase morte é verdadeira. Não é um sonho nem uma alucinação.
Este doente realmente viu este objeto, com o qual teve contacto apenas durante
a experiência de quase morte.
Portanto, algo dele saiu do seu corpo, foi para uma
distância muito longa, viu esse objeto e condicionou a memória.
Mesmo assim, são experiências de quase morte. Não são
experiências pós-morte. Nunca ninguém veio de outro mundo. Ou essas pessoas
voltaram realmente do outro mundo?
São experiências de uma pessoa que está clinicamente morta.
Está morta e isso é comprovado com um eletrocardiograma plano, um
eletroencefalograma plano a partir dos 10 ou 15 segundos. Não tem atividade
cerebral. Não tem atividade cardíaca. Não respira. Não tem reflexos. Está
morto. E durante esse tempo em que está morto, tem essas experiências.
Não é nem antes nem depois, é durante um tempo em que está
morto, em que é impossível ter sensibilidade, ter visão, ter todos os fatores
que permitem ao ser humano relacionar-se com o exterior.
Já contou algumas experiências que os seus pacientes lhe
contam. Tem alguma história em particular que o tenha marcado?
Todas as informações que me confirmaram que isso é verdade
marcaram-me muito.
No início, tinha uma formação médica muito materialista, que
é o que se estuda na Faculdade de Medicina, o método cartesiano e newtoniano.
Quando me explicaram essas experiências, que vivi nos meus doentes, fiquei
francamente surpreendido. ‘Isso é impossível’, dizia. ‘Pela minha formação
médica que recebi na faculdade é impossível que isto seja verdade’. Mas depois
vi algumas coisas que me fizeram dizer: ‘isto é verdade’.
Por exemplo, uma doente que nos conhecia –conto a história
dela no livro - uma profissional de saúde que trabalhava no meu hospital.
Conhecia-nos a todos. Esta doente um dia teve um acidente de trânsito muito
grave e foi levada para o nosso hospital. Eu era o chefe de urgências que
estava no hospital quando ela chegou. Ela estava morta. Diagnóstico de morte
clínica. Eu reanimei-a, operei-a e, no pós-operatório, ela contou-se que saiu
do seu corpo e ficou totalmente surpresa. Viu o seu corpo de fora. Ela me disse:
‘Você estava a fazer-me massagem e picou o meu coração. O dr. tal (com nome e
apelido), anestesista, estava a ventilar-me. A dra. tal, (de hematologia)
estava a fazer-me uma transfusão de sangue. O dr. tal (com nome e apelido),
ortopedista imobilizou-me de um trauma, uma fratura. Ela não podia ver-nos.
Estava morta. Não tinha pulso nem atividade cerebral.
Depois, esta doente contou-me tudo o que aconteceu no
serviço de urgências, com todos os detalhes que se possa imaginar. Mesmo na
parte mais distante, havia uma sala de operações de urgências. E ela disse-me
que os traumatologistas estavam a operar uma fratura do colo do fémur. Depois
fui à sala de cirurgia, consultei os computadores, conversei com o médico.
Posso atestar que tudo o que ela me contou, enquanto estava com o corpo dela
sobre a marquesa e lhe fazia massagem cardíaca, lhe picava o coração, aconteceu
mesmo.
E como este caso, há centenas de casos na biografia mundial.
Ou seja, temos provas objetivas, mas não temos uma explicação científica. Temos
o que se chama epistemologia, o conhecimento, mas não temos a ontogenia, ou
seja, o conhecimento da essência, da natureza, da origem. Estes dados não nos
dão isso.
Esses relatos confirmam que é verdade, mas não nos dizem
porque é que isso acontece. É isso?
Exato. Para procurar uma explicação é preciso recorrer à
mecânica quântica. A mecânica quântica
diz-nos que tudo é energia. E quando interpretamos a estrutura do universo como
energia vibratória, então sim, vemos que todos os princípios, ou muitos dos
princípios da mecânica quântica têm um paralelismo, uma semelhança muito
evidente com tudo o que os doentes nos contam.
Numa entrevista contou o caso de uma mulher que se encontrou
com a própria mãe que já tinha falecido…
Uma das características dos pacientes que tiveram uma
experiência próxima da morte é que perdem o medo da morte. E perdem o medo da
morte porque comprovaram que a morte não existe. A morte é uma transição, uma
passagem para outra situação energética.
Esta doente de que lhe falei tinha perdido a mãe. Estava de
luto. Era muito ligada à mãe. E a mãe dela tinha falecido.
Era a mesma paciente da história que nos relatou atrás?
Esta mesma que trabalhava no hospital. Esta doente, os
doentes com cancro, com a experiência da quase morte, é muito frequente verem
entes queridos já falecidos com quem eram muito ligados afetivamente. Esta
doente contactou a sua mãe. Disse-me depois: ‘Foi a maior alegria que já tive
na vida. Estava de luto, pois tinha perdido a minha mãe na dimensão humana.
Comuniquei com ela telepaticamente. Ela disse-me que esperasse, que terminasse
o meu ciclo de vida, que nos encontraremos novamente. Ela está viva noutra
dimensão e está muito melhor do que quando estava na dimensão humana. Ela
disse-me, doutor, que a morte não existe’.
Mas deixamos de ver essas pessoas. Enterramo-las ou
cremamo-las. Há ali um fim…
Há uma transição para outra situação energética. Mas, dizia
a minha paciente, “posso garantir que estive com a minha mãe e isso acontece em
milhares de casos”.
Como é que um homem das ciências exatas, um médico, começou
a interessar-se por esses temas mais transcendentais? Qual foi o ponto exato ou
a situação que lhe deu o clique?
Não acreditava em nada antes. Falavam-me, diziam-me essas
coisas e dizia que eram sonhos, alucinações.
O que é que aconteceu?
Foi um doente que atendi e me explicou todas essas coisas e
pude comprovar que era verdade. Sempre fui muito curioso, gosto muito de
investigar, de saber o porquê das coisas. Então, fiquei muito surpreendido com
um doente. Ele disse-me coisas que era impossível, com o meu método científico,
explicar.
E então comecei a procurar bibliografia, informação e
percebi que este fenómeno é muito frequente. Há milhares e milhares de casos
descritos e todos dizem o mesmo. Então disse, pela minha curiosidade
investigadora, que aqui há algo que não sabemos e que é preciso investigar.
Começou com um doente. O que despertou exatamente a sua
curiosidade?
Como investigador médico, procuro sempre o porquê das
coisas. A supraconsciência é a nossa realidade existencial.
Todos estes doentes explicam-nos algo quando estão
clinicamente mortos. Não têm consciência local ou neuronal, a consciência que o
cérebro produz, os neurónios. Mas relatam-nos acontecimentos e explicam-nos
outras coisas… encontram a sua mãe.
O que quer dizer?
Que há outra consciência que persiste
apesar da morte física, que supõe o fim da consciência local ou neuronal, mas
persiste outra que chamo de supraconsciência, porque está acima da consciência
normal e perdura apesar da morte física.
Podemos falar de supraconsciência em relação aos
recém-nascidos, aos bebés dentro do útero, por exemplo?
No momento da conceção, quando os dois gametas se unem e se
produz uma célula que dará origem a um ser humano, ele já tem consciência.
Consciência ou supraconsciência?
Consciência. Todo o ser vivo tem consciência.
Em que momento entra então a supraconsciência?
Quando há um determinado desenvolvimento cerebral. Não
imediatamente, mas leva algum tempo. Mas todo o ser vivo tem consciência.
Existem muitos graus de consciência. E o máximo é a supraconsciência, que é a
que o ser humano tem, e essa supraconsciência entra quando há um
desenvolvimento suficiente.
A supraconsciência existe e só se manifesta em determinadas
circunstâncias. Em experiências de quase morte ou quando atinjo um determinado
grau de espiritualidade. É isso?
Esse é o objetivo da nossa vida: descobrir a
supraconsciência. Temos sempre a supraconsciência, mas ela está coberta ou
oculta pelo ego, que é a falsa identidade. E o objetivo da nossa vida é
precisamente descobri-la. E quando a descobrimos, é quando chegamos à grande
perfeição, à santidade, à budeidade.
E como faço isso? Como acabo com o meu ego?
Pode ser feito de duas maneiras. Inconscientemente, os
doentes em morte clínica. Eles não fazem nada e há pessoas que têm essa
experiência.
Mas pode fazê-lo com meditação, meditando corretamente, com
um método correto, com um mestre que lhe ensine como se faz. É preciso tempo,
mas digo-lhe por experiência própria que é possível entrar em contacto com a
sua supraconsciência. E, quando isso acontece, a sua vida muda.
Uma das maneiras de contactar a nossa supraconsciência é a
experiência de quase morte. Mas a telepatia, a clarividência, a precognição, as
experiências místicas, a psicocinese, a lucidez terminal, as experiências dos
moribundos, tudo isso é a mesma coisa, é a manifestação de diferentes formas da
supraconsciência.
A medicina convencional, a medicina tradicional, está aberta
a integrar esses conceitos? Ou está fechada a… esse misticismo?
Quando comecei a estudar estas questões, tive uma oposição
frontal muito dura. Até me disseram: não faças isso porque vais prejudicar a
tua carreira profissional.
E prejudicou?
Não, porque continuei a estudar, mas não disse nada. Era
chefe do serviço de cirurgia numa unidade com 200 camas, professor na
universidade. Naquela época, se começasse a pregar, teria prejudicado a minha
carreira e o meu serviço. É por isso que só agora começo a falar sobre esse
assunto. Continuei a estudar porque me interessava, mas guardava para mim.
Físicos, médicos, teólogos, filósofos, religiosos, todos diziam: “Não se meta
nisso, são sonhos, alucinações, coisas do cérebro, porque estás a sofrer uma paragem
cardíaca. Deixa-te estar”.
Mas pude comprovar que uma experiência próxima da morte é
totalmente diferente de uma alucinação. É outra coisa. E depois comecei a ter
provas científicas… mecânica quântica, ressonância magnética, que me
confirmavam que tudo é verdade.
Como é que os céticos iniciais reagiram quando começou a
apresentar-lhes provas científicas?
Olhe, isso começou a mudar. No meu hospital fizeram um curso
de cuidados intensivos. E eles já sabiam, eu tinha feito podcasts e outras
coisas. E pediram-me para fazer a conferência de encerramento. Agora estou a
dar conferências para associações profissionais, associações de médicos,
academias reais.
O Papa ligou-me, estive com o Papa a falar sobre isto. Com o
Dalai Lama também. Isto é um novo paradigma e tudo isto faz tremer os
princípios científicos materiais, não é contra o método científico, estuda o
objetivo, o que posso ver e tocar. E a experiência de quase morte estuda a
nossa realidade, a energia, nós somos energia. Estuda um mundo que não vemos,
mas que faz parte de nós igualmente.
Nós somos energia. O que posso ver é carne, mas esta carne é
energia.
O que é que esse conhecimento pode mudar nas nossas vidas?
Pode mudá-las totalmente. Acompanhei os meus pacientes que
tiveram uma experiência próxima da morte durante anos. Vi o impacto que isso
teve nessas pessoas. Sentem-se muito incompreendidos. Não conseguem explicar
porque não os compreendem. Em segundo lugar, perdem completamente o medo da
morte. Já não lhes causa medo.
Dizem: “Doutor, se chegar a uma situação final. Tire-me a
dor. Mas a morte não me assusta. Sei que vou para outro lugar”. Sabem que
depois da vida entram em contacto com os seus entes queridos. A vida continua
noutra dimensão, a morte não é o fim da nossa existência, é uma passagem para
outra dimensão, para uma vida noutra dimensão energética.
Tornam-se muito intuitivos, ou seja, são pessoas, a intuição
é uma precognição, sabem o que vai acontecer amanhã. Porque quando estão na
outra etapa, só existe um tempo, o presente, o agora. Tudo é agora, o que
aconteceu, o agora e o que virá. Tornam-se pessoas muito boas, regem-se por
arquétipos de bondade. Controlam o ego facilmente. Tornam-se empáticos,
altruístas, bondosos, justos, amorosos.
O material não lhes interessa. É preciso ter o material para
viver, mas já não é um objetivo, é um meio para viver. Já não é o mais
importante.
E tornam-se muito espirituais, mas perdem o interesse pela
religião, porque a religião é muito dogmática e eles querem evidências, querem
que lhes mostrem coisas.
Sabe o que o Papa me disse?
Não, mas gostava de saber.
Ele disse: “sei que você enche teatros com 2.000 e 2.500
pessoas e as igrejas estão vazias. E você diz o mesmo que a religião diz, que
existe um Deus e que esse Deus se manifesta em cada um de nós com a
supraconsciência. Se você diz o mesmo, como é que você consegue?”
E como é que consegue?
Respondi ao Papa que faço isso cientificamente e as pessoas
querem evidências, provas. E a religião não faz isso. Na religião é preciso
acreditar porque é o que diz a igreja, o dogma, e as pessoas não querem isso.
As pessoas tornam-se mais espirituais, mas menos
dogmáticas...
Exato, tornam-se mais espirituais pela necessidade de terem
a certeza de que têm Deus dentro delas e que têm de voltar com Deus à sua
origem. Têm isso muito claro e isso condiciona-as a uma dinâmica vital de
bondade, de amor.
Isso melhora a relação com as pessoas que têm a seu lado?
Totalmente. O que tem de mudar o mundo para melhor não são
os políticos, nem os poderes factuais, nem os egos. Será quando se descobrir
que há pessoas suficientes que conhecem a sua supraconsciência.
Diz que o ego é que tem medo da morte. Porquê?
Porque o ego sufoca a supraconsciência. O ego tem uma origem
material, externa. Depende da matéria, do cérebro. É a identidade da
consciência local ou neuronal. É a isso que chamamos de ego. Todos os medos que
o ser humano tem, por mais banal, por mais insignificante que seja, são
provocados pelo ego. E tem medo porque sabe que a morte é o fim da sua
existência.
Como depende da matéria, com a morte desintegra-se. Os
neurónios morrem, deixamos de pensar, deixamos de existir materialmente. Então
o ego desaparece. É por isso que tem medo. Todo o medo é provocado pelo ego.
E, no fundo, todo o medo é medo da morte. Porque sabe que
com a morte o ego desaparece.
Tem medo da morte?
Não tenho medo, sem dúvida. O que não gosto é de sofrer. Se
chegar a uma situação final com dores e tal, direi: “dê-me coisas para tirar a
dor”. Mas medo da morte, nem um pouco. Sei que vou para uma situação melhor.
Mas nunca teve uma experiência de quase morte…
Não. Mas com a meditação que pratico há anos, entro em
contacto com a supraconsciência. Nos momentos profundos, entro em contacto. E
nota-se. Sabe como se nota? Da mesma forma que os meus doentes me dizem na
experiência. Quando entro em contacto com a minha supraconsciência, o mundo
abre-se. Vejo que sou o universo, que estou unido a tudo, que faço parte de
tudo, que estou unido com amor a tudo. E vejo a divindade em tudo. Uma rosa, um
pôr do sol… vejo a essência das coisas.
Uma rosa é uma maravilha, mas se a olhar com o ego, é apenas
mais uma rosa. Mas, se lhe vir a essência, é uma perfeição total. Um pássaro é
perfeito tal como é feito.
Há quanto tempo faz meditação?
Comecei há muito tempo e tenho feito muitas horas, medito
todos os dias, acompanhado por uma pessoa que medita há 40 anos. É muito
profundo. Utilizo um método oriental, budista, o Raja Yoga de Patanjali.
Que mensagem gostaria de deixar para alguém que tem medo da
morte?
O que tentaria fazer é dar-lhe muito amor, dar-lhe amor,
dar-lhe energia positiva e explicar-lhe-ia coisas muito superficiais da
realidade, dar-lhe-ia algum exemplo dos meus doentes, mas acima de tudo
manifestaria amor, porque sei que nos últimos momentos é muito difícil
compreender isto, é preciso tempo, é preciso lutar contra a ignorância, o que
significa que essa pessoa evoluiu pouco.
Diz que a supraconsciência nos torna mais empáticos, nos
traz mais amor. Mas se a supraconsciência nos traz mais empatia e amor, então
deveria ser fácil sermos pessoas boas.
Deve ser fácil e é fácil. O que acontece é que ele tem um
inimigo terrível, com uma força imensa, que é o ego. O ego procura por todos os meios encobrir,
impedir que a supraconsciência aflore, porque quanto mais presente estiver a
supraconsciência, mais afastado e controlado fica o ego. E o ego quer
desenvolver os seus objetivos. E quais são os seus objetivos? O ego, o egoísmo,
a afeição pelo material, o poder, a riqueza. Tudo isso a supraconsciência não
deixa fazer, então o ego tem armas para encobrir, frear, impedir que a
supraconsciência apareça. Somos inimigos de nós mesmos, pois temos duas
identidades e uma delas é nossa inimiga. Esse é o objetivo da vida: controlar
esse inimigo para que a outra identidade venha à tona.
No dia em que no universo, no nosso planeta, todos
conheçamos a respetiva supraconsciência, a Terra será o Céu. Não haverá maldade
nem desigualdades.
Poderíamos ser todos santos, em última instância...
Chegaremos a um momento em que seremos todos santos.
Acredita mesmo nisso?
Acredito que esta é a evolução do nosso planeta. O nosso
planeta ainda está pouco evoluído, mas já há almas muito desenvolvidas. E,
pouco a pouco, isto irá evoluir. E quando chegarmos ao máximo, será o Céu.
Então, não terá sentido esta dimensão humana.
Vivemos na dimensão humana para descobrir a nossa
supraconsciência. Quando todos a tiverem descoberto, viver na Terra em dimensão
humana já não terá sentido. Não haverá guerras. Isto já será o Céu.
Então já não precisaremos de morrer ou de voltar de
experiências de quase morte?
É o próximo nível. Você estará eternamente unida à
consciência, em felicidade absoluta, eternamente. Isto é o que dizem os
doentes, que não querem voltar, porque viram o que há do outro lado. Há doentes
que me disseram que os prejudiquei, reanimando-os, porque não queriam voltar.
Dizem-me: “Você não sabe o quão bem se está ali”.
Quando todos tivermos contacto com a nossa supraconsciência,
a vida, a dimensão humana, já não tem sentido. Porque todos seremos amor.
É fácil gostar do cenário que descreve, mas custa acreditar
que estamos a caminhar nessa direção.
Garanto-lhe que será assim.
Tive uma formação católica, cristã. Mas depois houve um
momento em que me afastei. Não estava contra. Tinha os princípios e valores que
me inculcaram os meus pais e ser-lhes-ei grato toda a vida. São valores de
bondade, de empatia, de ajudar as pessoas, não roubar, ser uma boa pessoa. Mas
afastei-me de todos os dogmas religiosos porque não lhes vejo sentido.
Uma pessoa que me diga, não acredito na Igreja, na religião.
Eu digo, mas a sua finalidade não é acreditar na religião. A religião tem de
ser tomada como um meio que ajude a descobrir a sua identidade autêntica, que é
a espiritualidade. A espiritualidade é olhar para o seu interior e ver que tem
Deus dentro de si.
Quando vemos crianças a morrer de fome em Gaza, a guerra na
Ucrânia, as guerras em África... Como podemos acreditar que um dia todos
seremos bons?
Ego. Tudo isso é ego, ego, ego.
Não há demasiado ego para que o mundo um dia se torne tão
bom como descreve?
Mudará. Tardará, mas mudará. Já não será no nosso tempo. Já
não estaremos cá, mas mudará. Tardará. Custará. Mas mudará. Ainda tem de morrer
muita gente e ainda serão feitas muitas barbaridades antes que mude. Mas
mudará.
Por onde começar a explorar este tema para quem está um
pouco cético?
O primeiro grande inimigo para contatar com a sua
supraconsciência é a ignorância. É não saber as coisas. Tem de se lutar contra
a ignorância. Há muita bibliografia, muitos livros, leiam-nos.
E no momento que virem que há muitas provas científicas e
objetivas, de que há algo a mais do que o material, é o momento em que se
controla a ignorância. Aí meditem e comecem com um bom curso de meditação.
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